Por Carla Maio
Publicado em 26/06/2023
Editado em 27/06/2023, às 8:33
Dores de cabeça constantes, baixo rendimento escolar e dificuldades para fazer a lição de casa despertou a preocupação de Renata Santos da Silva, de 41 anos, mãe de Levi Santos Muniz, 8, aluno do 3º ano da EPG Walter Efigênio. Há pouco mais de um mês, Levi foi contemplado com um dos 96 óculos entregues aos alunos da unidade, por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), política intersetorial das secretarias de Educação e Saúde voltada a crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública para promover saúde e educação integral.
Em 2022, o Programa Menina dos Olhos realizou mais de 3300 consultas com alunos das escolas da rede municipal. Até maio de 2023, os números já ultrapassaram o ano anterior, com mais de 5 mil consultas e cerca de 3 mil óculos prescritos. Até o final do ano, as consultas continuam sendo realizadas no Expresso da Visão II, uma unidade móvel alocada em escolas-polo distribuídas por diversas regiões da cidade.
O Programa Menina dos Olhos é fundamental para a aprendizagem, pois busca detectar precocemente patologias oculares dos educandos através de exames específicos com médicos oftalmologistas capacitados. O atendimento adequado e a garantia de que as crianças recebam seus óculos o mais breve possível garante que elas não tenham prejuízo no aprendizado.
Diagnóstico precoce
“Meu filho dava muito trabalho para aprender, cheguei a achar que eu não tinha muita paciência, não estudei para ser professora. Ele tinha problemas nas vistas e eu não sabia; hoje, entendo que a baixa visão estava dificultando a aprendizagem”, desabafou a mãe.
Na escola, o professor da turma do 3º ano, Nelson Francisco de Jesus Filho, também notou algo diferente no comportamento do aluno. “No começo, eu observei que o Levi ficava fechando os olhos para conseguir enxergar na lousa, também ficava muito próximo do caderno. Então, eu o trouxe mais para perto da lousa, mas mesmo fazendo letras grandes, ele continuava apresentando dificuldade para enxergar”, conta o professor.
O docente não perdeu tempo, comunicou a gestão e, com o Programa Menina dos Olhos, Levi foi encaminhado para triagem e, em seguida, para consulta oftalmológica com um especialista, que identificou a necessidade de usar óculos.
Triagem e consulta
A triagem é realizada por meio de testes, informações e observação. Consideram aptos a passarem em consulta todos os educandos que realizaram teste na escala Snellen e seus resultados optotipos apresentarem resultados abaixo da linha 0,8. O resultado do teste de Levi acusou 0.8 no olho direito e 0.6, no esquerdo.
De acordo com a médica oftalmologista Ana Carolina Mayo de Castro, exames oftalmológicos regulares são fundamentais para garantir uma boa visão e uma boa qualidade de vida.
“Uma visão prejudicada por distúrbios oculares, como os erros refrativos (Miopia, Hipermetropia e Astigmatismo), é prejudicial para um bom desempenho escolar. Enxergar com qualidade evita que a criança perca o interesse no que está sendo ensinado, e facilita a compreensão e fixação dos conteúdos”, explica a médica.
A oftalmologista aconselha que crianças, jovens, adultos e idosos visitem o médico a qualquer época do ano, mas enfatiza que a ida regular é ainda mais importante em crianças e jovens em idade escolar.
“Antes, eu não conseguia enxergar direito, então, eu sentava bem perto da lousa e isso ajudava a melhorar. Às vezes, a luz batia na lousa e atrapalhava. Agora, com os óculos, fica muito melhor para enxergar as letras e as imagens na TV com mais nitidez”, contou Levi.
Depois do encaminhamento oftalmológico dos alunos, a escola fez a cotação de valores junto às óticas da região para a aquisição dos óculos. Todo o percurso, do diagnóstico precoce à compra, foi acompanhado pelos pais, responsáveis e professores. De acordo com Sandra Rosa Hirata da Silva, diretora da EPG Walter Efigênio, a autonomia das crianças se fez presente na escolha da armação dos óculos, saber alinhado à Proposta Curricular Quadro de Saberes Necessários (QSN/2019).
“Após o período pandêmico houve um aumento considerável em relação aos educandos com prescrição de óculos. Infelizmente houve um número considerável de famílias que não compareceram à consulta, mesmo após remarcações. É notório os avanços significativos no processo de aprendizagem das crianças, da educação infantil ao fundamental, evidenciando a importância do programa”, contou a gestora.
Visão do mundo e qualidade de vida
De acordo com o professor Nelson, Levi já mostrou avanços na aprendizagem da leitura e, apesar de continuar sentando-se nas fileiras da frente, não fecha mais os olhos para conseguir enxergar e consegue ler melhor as letras, o que resultou em grande avanço no aprendizado.
“Se antes ele estava na hipótese silábica sem valor, hoje já está alfabético. Nesse sentido, o programa contribuiu para um salto muito grande na melhoria de seu aprendizado, leitura e escrita, comemora o professor.
Outra mãe bastante satisfeita com o resultado do uso dos óculos no comportamento das gêmeas Jhenyfer e Manuella Alves de Melo, alunas do 2º ano da EPG Walter Efigênio, é Jamile Alves dos Santos, 42.
“Quando chegavam da escola, as meninas contavam que não conseguiam enxergar ou copiar o que estava na lousa. Ao tentar ajudar com a lição de casa, percebia muitas dificuldades, elas ficavam irritadas e não queriam fazer. Depois que receberam os óculos, não temos mais esses momentos de estresse, elas fazem a lição bem bonitinho, já melhoraram na escola, estão aprendendo a ler, estou muito satisfeita”, diz a mãe Jamile.
Com a aquisição dos óculos e tratamentos adequados, tanto Levi, Jhenyfer e Manuella quanto os demais alunos das escolas da rede municipal já apresentaram melhora significativa no processo de ensino e aprendizagem. Sem as barreiras impostas pela dificuldade de enxergar, as crianças descobrem diversas oportunidades de crescimento, desenvolvimento e compartilhamento de conhecimento, o que amplia suas experiências e lhes proporciona o enriquecimento de sua visão do mundo e qualidade de vida.