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Uso de tecnologia assistiva potencializa atendimento a educandos com deficiência



Por Carla Maio
Publicado em 28/10/2024
Editado em 28/10/2024, às 16:07

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Explorar tecnologias, apropriar-se, refletir, criar, planejar e atuar como multiplicador de conhecimentos de forma intencional. Dentre algumas das mais valiosas atribuições da profissão docente abordadas no texto introdutório da proposta Curricular Quadro de Saberes Necessários (Guarulhos, 2019, p. 43), o uso de diferentes tecnologias é uma das mais eloquentes possibilidades de desenvolvimento de saberes pelos educadores. 

A tecnologia assistiva reúne produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que têm como objetivo favorecer a participação das pessoas com deficiência em sociedade. Neste contexto, a criação e utilização de recursos que potencializam o desenvolvimento cognitivo têm se mostrado bastante valiosas.

Foi pensando nisso que o DOEP (Departamento de Orientações Educacionais e Pedagógicas) da Secretaria de Educação, em parceria com a ESAP (Escola de Administração Pública Municipal), ofereceu o curso Desenvolvendo Soluções Inclusivas: Utilizando Impressoras 3D na Tecnologia Assistiva, conteúdo do Programa de Formação Permanente destinado a educadores que atuam no Atendimento Educacional Especializado (AEE) nas escolas da Prefeitura de Guarulhos. 

Professora do AEE na EPG Tom Jobim há 7 anos, Silmara Pereira de Souza foi uma das participantes do curso. A unidade é uma das 90 escolas da Prefeitura de Guarulhos que oferece o atendimento a cerca de 5990 educandos com deficiência, do Ensino Fundamental e da EJA.

Com verba do Programa Sala de Recursos do PDDE Interativo e apoio da gestão escolar da EPG Tom Jobim para aquisição da impressora 3D, Silmara dedicou-se a pesquisar e a aprender sobre o uso da ferramenta de modo independente. “É válido ressaltar a importância de adquirir materiais que proporcionem diferentes aprendizagens de maneira mais prazerosa para nossos alunos.  Acredito que, assim, trabalhamos por uma educação de qualidade”, enfatiza Eliana Matos.

Mas foi somente com a formação específica sobre as funcionalidades da impressora que a educadora desenvolveu habilidades para desenhar materiais e criar modelos personalizados, atendendo às especificidades de cada indivíduo e, assim, potencializar as aprendizagens dos educandos com deficiência em todos os momentos da rotina escolar.

Trabalho em equipe 


O aluno Júlio, de 8 anos, tem múltiplas deficiências, dentre as quais a visual e autismo. Quando ele chegou à EPG Tom Jobim no início do ano letivo, sua mãe estava desamparada e cheia de dúvidas sobre o desenvolvimento de suas potencialidades e receio quanto ao acolhimento e aceitação de seu filho pelas demais crianças.

Foi a partir desse primeiro contato e da observação de suas dificuldades em manusear os objetos que a professora Silmara criou materiais em tamanhos maiores, para facilitar sua construção mental sobre os objetos. Os materiais produzidos pela impressora 3D têm maior durabilidade e são mais higiênicos porque são mais fáceis de limpar.

“Na sala de aula, a professora Luciana falou dos animais silvestres, então, eu fiz o elefante para ele perceber como é esse animal, como é sua tromba, o rabo, as orelhas, para que ele possa fazer essas construções mentais. Essas adaptações são essenciais para que ele possa participar das atividades com a turma na sala”, explica Silmara. 

Dentre os avanços observados pela educadora, ela conta que Júlio apresentou melhora no desconforto sensorial em decorrência do autismo, e hoje já tateia e explora os objetos, atende alguns comandos, e explora os materiais disponíveis na sala do AEE em busca daquilo que lhe pedem. 

“Contar com o apoio do AEE para lidar com os desafios da sala de aula é muito importante, porque dividimos dúvidas e encontramos respostas, aprendemos a fazer adaptações e a inserir atividades diversificadas para potencializar a aprendizagem”, comemora Luciana Aparecida Bernardes da Silva, professora da turma de Júlio. 

É importante dizer que Júlio é acompanhado na sala de aula pela professora eventual Tatsu Shinozaki de Souza, que possui formação em Pedagogia e especialização em AEE. 

“Essa é sua primeira experiência em uma escola e ele precisa de atendimento constante, por isso o trabalho em equipe é essencial, conversar sobre os recursos, como as atividades serão adaptadas é de extrema importância, explica Tatsu.”

Compartilhando saberes


O curso oferecido aos professores do AEE acerca da impressora 3D teve como foco o processo de desenho e fabricação digital de dispositivos de tecnologia assistiva. Um de seus principais objetivos era contribuir para o processo de ensino e aprendizagem em uma perspectiva inclusiva. 

Na EPG Tom Jobim, Silmara também colabora com as horas-atividades formativas, compartilhando com os demais professores as conquistas alcançadas pelos educandos com deficiência, resultado de inúmeras estratégias dos atendimentos do AEE.

“Os professores são muito curiosos, todos querem aprender a usar a impressora 3D e potencializar os projetos com os educandos. Mensalmente, ela compartilha os atendimentos e mostra ao grupo materiais que também podem ser utilizados por educandos sem deficiência, ajudando-os na coordenação motora e movimento de pinça com adaptadores de lápis e tesouras”, explica Juliana Cristina Esteves, parceira na coordenação pedagógica da unidade com Talita G.S. da Rocha.

Nesse contexto, a tecnologia assistiva serve a todas as crianças, e para além de elaborar materiais, a escola também oferece aos educandos oportunidades de experimentação e observação de seu funcionamento. 

Outra cursista que tem aproveitado os conhecimentos oferecidos pelo curso é a professora Maria da Conceição Alves dos Santos, da EPG Marfilha Belloti Gonçalves. Em seu trabalho de conclusão de curso, ela apresentou um projeto de adaptador de talheres para educandos com paralisia cerebral.

A partir das especificidades apresentadas pela educanda F.T.A, 11, que tem múltiplas deficiências incluindo a paralisia cerebral, probabilidade de autismo e cegueira, a professora saiu em busca de soluções para dar à educanda maior autonomia e conforto na hora de se alimentar. 

Logo no início do curso, Conceição conta que ficou apreensiva se conseguiria criar recursos e manusear a impressora. “Passado esse primeiro momento de dúvidas, de fazer os modelos na massinha, calcular o tamanho das peças e modelar o projeto no CAD, logo fiquei com sede de aprender. Quando percebi que as crianças que antes não conseguiam segurar o lápis agora estavam interessadas em escrever e fazer registros por conta do uso de um recurso criado com a 3D, fiquei extremamente motivada”, explica Conceição. 

A construção de materiais adaptados pelos educadores do AEE já é uma praxe e o uso da tecnologia assistiva potencializa o atendimento ao oferecer aos educandos novas perspectivas de desenvolvimento e aprendizagem, de acordo com suas especificidades. 

Socializando os recursos 


Se num primeiro momento o instrumento possibilitou que F. pudesse se alimentar com autonomia, o uso frequente do adaptador fez com que a educanda percebesse os movimentos de preensão e elevação, que deveriam ser feitos para que a comida pudesse chegar até ela. Com o passar dos dias, a educanda deixou de usar o adaptador, executando o movimento por meio da compreensão de seu funcionamento e função.

A enfermeira da Organização Social Civil Interação, Claudinéia Araújo, é uma das responsáveis pelo cuidado com a aluna F., principalmente durante as refeições. Foi Claudinéia quem treinou F. a usar o adaptador de talheres. “No começo, F. colocava a mão dentro da boca e era necessário segurar sua mão para alimentá-la. Quando chegou o adaptador, ela achou que era um brinquedo e conforme fui a incentivando, ela compreendeu que deveria trazê-lo até a boca. Para ela foi interessante, porque ela não sabia que tinha que fazer o movimento; hoje ela já segura o copo d’água, segura a colher, um avanço bastante significativo para ela”, vibra a enfermeira.

A parceria dos pais para motivar os filhos a usarem os recursos adaptados também em casa é essencial para a aprendizagem. O aluno Luís, de 7 anos, estudante da EPG Visconde de Sabugosa, é atendido na escola polo do AEE EPG Marfilha. A mãe do educando já participou dos atendimentos, momentos em que ela também aprendeu a usar os adaptadores de pincel e lápis e ajudar o filho nas atividades.

“Durante uma reunião com os pais dos educandos atendidos, mostrei o portfólio com a retrospectiva do curso, mostrei como eram os recursos utilizados, elaborados com outros materiais, e os novos recursos criados com a impressora 3D”, explica Conceição.

Nesse processo enriquecedor, em que o curso oferecido pelo Programa de Formação Permanente alcançou de maneira mais eficaz e significativa o trabalho pedagógico e as práticas do atendimento educacional especializado nas escolas, vale enfatizar quão valiosos são os resultados quando todos têm a oportunidade de explorar as tecnologias.  Com a curiosidade desperta, quem sabe, possamos vislumbrar futuros pesquisadores focados em transformar a sociedade em um lugar mais inclusivo e justo para se viver. 


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