Heitor e seus amigos foram convidados a desenharem o fundo do mar, empolgados elencaram os seres que ali moravam de peixes a sereias. Antes de entregar sua criação, Heitor escreve no verso: “Eu desenhei uma sereia porque homem também pode gostar.
Homens e mulheres podem gostar das mesmas coisas”. Em uma turma de 34 crianças, Heitor foi o único menino a desenhar uma sereia. Chamamos de desenho livre aquele de escolha da criança, aquele em que ela pode desenhar o que desejar com os materiais ali dispostos. Todavia, nos enganamos ao pensar que existe liberdade total em tal momento, ao desenhar a criança observa o seu entorno, as criações e comentários dos colegas, de modo que pouco a pouco seu desenho vai sendo invadido pelo mundo externo. Segundo Iavelberg (2021) observar o desenho dos colegas amplia o repertório da criança. Heitor iniciou seu desenho buscando diferenciar as diferentes camadas do mar, colorindo a parte inferior da folha com um azul escuro, acrescentando um coral e pequenas pedras para
representar as profundezas marinhas, em seguida, com um azul mais claro fez o restante do oceano e uma linha no topo da página para representar o céu azul. Utilizou canetinhas que segundo ele ajudam na criação de um “degradê”, sendo que absorveu tal técnica ao observar o desenho de algumas colegas. Desenhou areia e sol amarelos e para finalizar questionou os estereótipos de gênero que
observava nos desenhos dos amigos, ao acrescentar uma sereia com lápis de escrever, sendo esta a única parte do desenho que optou por não colorir.
Professora Gabriela Bezerra