Devido ao atual cargo que desempenho não ser em uma escola, ou espaço educacional com crianças, precisei realizar a coleta com as
crianças do contexto familiar, os meus sobrinhos. A data encontrada para realizar essa proposta foi o dia das crianças, por ser um momento em que todos estariam juntos. Na sala da casa de uma delas, convidei as 5 crianças, entre 4 e 13 anos, para desenhar. Inicialmente, surgiu um receio de que eles pudessem não se interessar, afinal, haviam ganhado brinquedos diversos momentos antes. Para a minha surpresa, todos aceitaram e demonstraram muito interesse em realizar os registros. Disponibilizei lápis de escrever e colorido, folhas de sulfite branca e canetinhas coloridas na mesa e eles foram se organizando no entorno. Perguntei, inicialmente, se eles gostavam de desenhar, em seguida o que eles gostavam de desenhar. Em meio ao diálogo, os registros foram produzidos. Ao iniciarmos, observei que as duas crianças de 4 anos logo começaram a registrar, pareciam mais livres, enquanto os mais velhos paravam para pensar, iniciavam e, em seguida, trocavam de folha. Nesse sentido, lembrei do trecho da reflexão de Iavelberg, ao tratar da importância da sensibilidade ao lidar com as crianças e o seu processo de criação dos desenhos.
“O desenho do aluno é fruto de seu esforço, trabalho e criação. Portanto, gostar do desenho das crianças é gostar das crianças…”
(Rosa Iavelberg, 2013, p. 41)
A seguir, apresento trechos das falas sobre os seus desenhos e uma breve reflexão de cada.
Manuella: Eu tô desenhando uma Manuella e uma bailarina, a Maria Clara… e o JP.
O registro da Manu apresenta movimento. Ela desenha a si e dois influenciadores de um canal infantil que costuma assistir na plataforma Youtube, Maria Clara e o J.P.. Ela está de preto e a Maria Clara de rosa, ambas estão vestidas de bailarina. Esta é uma das atividades que ela realiza na escola, e possui a roupa de bailarina em rosa e preto. Em alguns momentos ela pede para vestir a roupa de bailarina preta para ficar em casa, demonstrando o seu interesse pela atividade. O movimento representado no desenho parece dialogar com a temática do balé. Durante o processo de criação, ela fala enquanto desenha e parece cantar baixinho. Uma de suas
linguagens preferidas é a musical, por isso, canta com frequência enquanto realiza suas ações. Esse aspecto reforça a afirmação de Rosa Iavelberg sobre o desenho da criança ser, ao mesmo tempo, ação e pensamento, contexto em que “o corpo todo participa.” (p. 29)
Professora Paula Teixeira de Araújo